Dança folclórica italiana: conheça as tradições
Dança folclórica italiana: conheça as tradições e a influência no Brasil
A preservação das tradições populares e o resgate do folclore são aspectos que despertaram o interesse de Patrick Zancanaro desde a infância. Ele cresceu imerso nesse movimento, influenciado por sua mãe, uma verdadeira artista gastronômica que domina a arte de fazer massas caseiras de todas as variedades.
“Em nossa casa, nunca compramos massa pronta”, ele disse em entrevista para a Simonato Cidadania. Hoje, Patrick é o vice-presidente da Federazione Folk La Serenissima, órgão máximo do folclore italiano no Brasil. Ele é o responsável pelos intercâmbios internacionais e coordena as pesquisas das tradições populares como Danças, trajes e demais costumes.
“Desde os meus sete anos de idade, participo ativamente da dança folclórica. Em 1999, um movimento de resgate das tradições populares começou a ganhar força no Brasil, e atualmente a maioria dos grupos folclóricos encontra-se no sul do país, embora haja alguns também em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo”, Zancanaro explica.
O que é uma dança folclórica?
Cada região tem suas próprias características, sejam elas relacionadas às estações do ano, a alguma tradição local, vivência ou história sobre uma montanha específica. As tradições se desenvolveram ao longo do tempo e de geração em geração, muitas mantiveram sua essência original.
A dança da peneira é um exemplo de tradição que remonta ao século XVIII, na região de Beludo, no Vêneto. Essa dança possui uma história original que não pode ser modificada, mantendo suas características distintas que são transmitidas de geração em geração.
Dentro de sua característica original, cada dança folclórica representa o resgate dessas tradições. Nessa dança, as coreografias giram em torno de uma peneira utilizada para limpar o milho e contam toda uma história relacionada a esse processo.
Da mesma forma, se observarmos uma dança da região de Treviso, como a "hervetza" ou o "matrimônio in hervetza", veremos uma dança com arcos floridos, que homenageia os noivos nos casamentos daquela região.
“Em janeiro, costuma-se realizar um evento chamado "panezin", no qual acendemos uma fogueira. Dependendo do lado para onde a fumaça é levada pelo vento quando o fogo está terminando, é possível prever se o ano será bom ou ruim”, conta Patrick. Embora essa tradição não seja cultivada em todos os lugares, ainda é praticada em alguns lugares do Brasil.
A dança da primavera, também típica de Treviso, marca a chegada da estação. Não há nada igual, e cada cidade e província tem suas próprias músicas e danças. E, nas danças folclóricas, não se cria coisas novas, apenas se mantém o que foi transmitido de geração em geração.
A Dança Folclórica Italiana no Brasil
Hoje em dia, o folclore no Brasil representa uma identidade de resgate e estudo, embora seja, de certa forma, uma recriação artificial em homenagem aos antepassados. Isso significa que nem tudo ficou com os imigrantes no que diz respeito às danças.
“Quando o imigrante veio, ele trouxe mais a questão da música. A dança foi muito pouca. O movimento de danças folclóricas no Brasil começou em Curitiba, mais ou menos há 70 anos atrás e foi um processo artificial. Não teve uma situação em que a família, o pai, a mãe, avó, avô dançavam. Aquele negócio de ver o pessoal dançando tarantella nos navios é novela. Aquilo ali não existe. As pessoas vinham nos porões dos navios e a maioria era paupérrima”, explica Zancanaro.
Na década de 80, os grupos brasileiros começaram a buscar referências na Itália e estabelecer intercâmbios com as regiões de origem, retornando às raízes e promovendo um verdadeiro resgate histórico.
Isso também foi uma maneira de a Itália incentivar e movimentar sua economia. A dança folclórica no Brasil teve, então, um crescimento significativo a partir da década de 80. Inúmeras associações criaram seus próprios grupos de danças folclóricas, muitas vezes copiando uns aos outros.
O primeiro projeto de dança surgiu em Serafina Corrêa, no Rio Grande do Sul, em 1994, denominado "Dança Itália", com 10 músicas originais. No final de 1999, foi criado a Sereníssima, órgão máximo do folclore italiano no Brasil, vinculado à Federação Italiana de Tradições Populares e à região do Vêneto.
Existe uma diferença significativa entre as regiões do país. Os italianos do sul do Brasil são predominantemente descendentes de imigrantes do norte da Itália, enquanto no Sudeste a maioria descende do sul da Itália.
Essa diferença se manifesta nos dialetos, na gastronomia e nos costumes, assim como ocorre no Brasil, onde diferentes regiões possuem seus próprios trajes. Todos são brasileiros, mas as pessoas do Rio Grande do Sul têm seus costumes, assim como aqueles que vivem no Nordeste.
“Da mesma forma, na Itália, não podemos afirmar que todos os italianos comem pizza. Embora alguns possam comer, os nortistas são conhecidos na Itália como "Polentone", devido à polenta, originária da região do Veneto, cuja capital é Veneza”, diz Patrick.
O Brasil passou por um intenso processo de aculturação e hoje tem um repertório difuso de danças folclóricas vindas de diferentes regiões da Itália. É possível acompanhar um festival de dança italiana, por exemplo, onde o mesmo grupo de danças folclóricas apresenta tradições vindas de várias regiões da Itália.
Para os italianos, esse tipo de prática parece estranha, já que tendem a preservar o regionalismo das tradições. Para Zancanaro isso seria impossível no Brasil, um país com muita diversidade.
Folclore ou Showclore?
No Brasil, também encontramos uma questão relevante quando se trata da cultura italiana, pois nem todos os grupos folclóricos italianos preservam o folclore autêntico. Muitos deles são grupos de projeção folclórica.
A projeção envolve, por exemplo, a junção de uma música originária da Itália, mas com uma coreografia inventada para acompanhá-la. Por outro lado, o folclorista estuda o aspecto cultural, e não se pode afirmar publicamente que uma dança é folclórica se ela não é exatamente como a original.
O folclore é uma forma de homenagear os espectadores, e não deve ser encarado como uma competição entre os grupos. A preservação das danças e dos trajes é fundamental.
O "showclore" pode combinar uma expressão corporal maravilhosa e uma técnica perfeita, mas do ponto de vista cultural e histórico, ele pode ser vazio. “É como se vestissemos uma pessoa com trajes de frevo, mas a fizessemos dançar música galdérea”, diz Patrick. “Pra quem não tem conhecimento e assiste é maravilhoso, mas quem conhece sobre a cultura, acha bizarro”.
O objetivo dos grupos de danças folclóricas no Brasil é agregar e envolver cada vez mais pessoas, tornando mais rico o acervo de músicas, danças e tradições e abraçando a juventude com atividades de reconexão com suas próprias raízes.
As tradições das danças folclóricas italianas no Brasil continuam sendo uma forma de expressão artística importante para aqueles que valorizam suas origens
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